Projeto conjunto entre AHF e Emílio Ribas faz com que 77% das pessoas retomem o tratamento de HIV/aids

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Guilherme

Projeto de pesquisa liderado pela AHF Brasil conta com sete profissionais atuando no instituto, que é referência nacional e internacional em infectologia

A aceitação ao tratamento antirretroviral continua a ser um dos principais obstáculos na luta contra o HIV/aids. Para superar essa dificuldade, um projeto conjunto entre a AHF Brasil e o Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, tem se mostrado fundamental para acolher os pacientes assistidos na unidade, que é referência nacional e internacional.

A colaboração entre a Aids Healthcare Foundation e o hospital fez com que 77% das pessoas com HIV/aids que haviam pausado o tratamento entre maio de 2023 e janeiro de 2025 voltassem a receber acompanhamento médico, graças às ações de conscientização realizadas pela AHF, que implementa um projeto de pesquisa e intervenção focado no acompanhamento de pacientes que descontinuam o tratamento.

O “Projeto de Conexão e Retenção de Indivíduos Vivendo com HIV e Aids” tem o objetivo de reforçar a relação com essas pessoas e promover seu retorno ao atendimento médico. Em entrevista à Agência Aids, a coordenadora do projeto, Márcia de Lima, da AHF Brasil, explicou que as medidas estratégicas e a supervisão constante têm sido essenciais. A colaboração entre as instituições surgiu com a finalidade de melhorar o monitoramento de pacientes que acabaram de receber o diagnóstico de HIV, assegurando um suporte adequado desde o início do tratamento.

Estratégias de acolhimento

De acordo com a Márcia de Lima, a busca pela adesão tem como maior desafio garantir um acolhimento de qualidade dentro do que se entende por um cuidado humanizado. “Por meio do acolhimento e da escuta qualificada, buscamos construir vínculos e promover o desenvolvimento do autocuidado e da autonomia, garantindo que a adesão ao tratamento seja consistente e longitudinal, sem depender exclusivamente da equipe”.

Desafios e desigualdades.

Apesar dos progressos obtidos, é imprescindível debater os obstáculos enfrentados na retenção de indivíduos vivendo com HIV no tratamento e na atenção clínica, principalmente em uma cidade como São Paulo – uma metrópole próspera, mas que possui desigualdades marcantes. Ao analisar o perfil predominante dos pacientes acompanhados pela AHF que descontinuam o tratamento antirretroviral, Márcia apresenta alguns dados relevantes. Observa-se que entre os pacientes que abandonam o seguimento, há uma predominância de: homens cisgêneros (61%), pessoas heterossexuais (65%), indivíduos de raça/cor branca (57%), aqueles com ensino médio completo (36%) e a faixa etária superior a 49 anos (38%).

Transmissão vertical

Um aspecto distintivo do Ambulatório Emílio Ribas é a elevada quantidade de pacientes infectados por meio da transmissão vertical, que corresponde a aproximadamente 17% dos casos monitorados pela equipe. Como resultado, esses indivíduos encontram consideráveis dificuldades para aceitar o diagnóstico, sendo essa resistência uma das principais razões para a interrupção do tratamento, o que se traduz em um significativo obstáculo para promover a adesão.

Considerando os diversos fatores que contribuem para o abandono do tratamento — como insegurança alimentar, estigmas, preconceitos, questões relacionadas ao consumo de álcool e outras substâncias, e conflitos familiares — a iniciativa de retenção também se propõe a responder a essas necessidades, ampliando a visão sobre as demandas sociais e de saúde dos pacientes. Muitas vezes, durante o retorno do paciente, temos a oportunidade de informar sobre a gratuidade do transporte público na cidade de São Paulo.

Mulheres grávidas

Outro grupo que merece atenção é o das mulheres grávidas, que frequentemente enfrentam o pré-natal de maneira solitária, sem uma rede de apoio adequada. Muitas dessas mulheres estão no grupo de Transmissão Vertical e já recebem acompanhamento da equipe devido a um histórico de múltiplas interrupções de seguimento, demandando, portanto, um cuidado ainda mais intenso.

Por fim, Márcia destacou a diversidade de pacientes acompanhados e a gravidade do quadro de muitos pacientes que retornaram para tratamento. “Estima-se que aproximadamente 30% dos pacientes que perdem o seguimento e regressam têm níveis de CD4 inferiores a 350 células/mm3 e, portanto, têm aids”, concluiu.