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HIV/aids: a pandemia que ainda não terminou

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Rodrigo Hilario

Com mais de 40 anos de duração, a pandemia de HIV/aids afeta as comunidades mais periféricas devido à falta de acesso a serviços de saúde, prevenção, testes e tratamento 

Após a relativa normalidade trazida pelas vacinas contra a covid-19, é preciso lembrar que o HIV/aids deve permanecer no topo das prioridades globais de saúde pública

São Paulo, 1º de dezembro de 2022

A Aids Healthcare Foundation (AHF) marca o Dia Mundial de Luta Contra a Aids de 2022 com o tema “A pandemia que ainda não terminou”, para lembrar aos líderes mundiais, às instituições globais de saúde pública e à sociedade civil que ainda há muito a ser feito para enfrentar o HIV/aids. Os relatórios indicam, com preocupação, que o mundo está atrasado na redução de novas infecções e taxas de mortalidade, o que significa que é preciso redobrar os esforços porque milhões de vidas estão em jogo.

De acordo com o relatório de 2022 do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), 46 mil pessoas na América Latina morreram em um ano e 8,5 mil no Caribe por causas relacionadas ao HIV. A esta altura, 41 anos após o início da pandemia, quase todos os casos de HIV/aids podem ser prevenidos, uma vez que o diagnóstico e o tratamento já estão disponíveis. 

“Ficamos satisfeitos em ver a resiliência dos programas de HIV em todo o mundo durante e após a pandemia. Entretanto, os últimos dados do UNAIDS mostram que a resposta global ao HIV e à aids precisa de mais vigor, o que torna nosso tema ainda mais relevante para o Dia Mundial de Luta Contra a Aids deste ano”, diz Terri Ford, Chefe de Política Global e Advocacy da AHF.

“Apelamos aos principais atores e defensores em todos os países para intensificar os esforços globais de prevenção, testagem e tratamento do HIV, a fim de conter o rápido aumento das taxas de novas infecções e proteger todos os nossos preciosos avanços. Chegamos longe demais na luta contra o HIV/aids para permitir que décadas de progresso sejam perdidas.”

O Unaids relatou 1,5 milhões de novas infecções pelo HIV no ano passado, o triplo da meta global para 2021, e cerca de 650 mil mortes por doenças relacionadas à aids. Por isso, a AHF defende que sejam priorizadas ações de testagem e tratamento para identificar os diagnósticos tardios de HIV.

De acordo com as últimas estatísticas da Unaids, mais de 38 milhões de pessoas vivem com HIV/aids no mundo e mais de 40 milhões morreram de doenças relacionadas à aids desde o início da epidemia do HIV.

“A América Latina foi uma região de sucesso para implementar tratamento e atendimento a comunidades com maior incidência, como as comunidades de homens gays e pessoas trans. Mas os dados do Unaids mostram que houve uma reviravolta”, afirma Patrícia Campos López, chefe do Escritório da AHF para a América Latina e o Caribe. “As ondas de migração, com medidas cada vez mais restritivas e estigmatizantes, mudaram a face do HIV em quase todos os nossos países.”

Beto de Jesus, diretor da AHF no Brasil, avança na discussão: “No nosso país, o mais preocupante é o volume de pessoas que chegam para o tratamento já bastante debilitadas por um diagnóstico tardio de HIV e com sua taxa de CD4 (células de defesa) baixa. Apesar do esforço que a AHF e outras organizações civis estão fazendo para responder ao HIV, a realidade tem se mostrado desafiadora.”

“Temos apenas oito anos para atingir a meta de 2030 de acabar com a aids como uma ameaça global à saúde. As desigualdades econômicas, sociais, culturais e jurídicas devem ser tratadas com urgência. Em uma pandemia, as desigualdades só exacerbam o perigo para todos. De fato, o fim da aids só pode ser alcançado se enfrentarmos as desigualdades que a impulsionam. Os líderes mundiais devem agir com uma liderança ousada e responsável”, disse Beto.

A Aids Healthcare Foundation planejou comemorações virtuais e ao vivo nos 45 países em que atua para homenagear aqueles que perderam suas vidas por causa do HIV e honrar aqueles que continuam lutando. No Brasil, a AHF realizará dois eventos para celebrar a data: a abertura da Clínica Comunitária de Saúde Sexual e a testagem para HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis, ambas em São Paulo.

ATIVIDADE 01
O QUE:Abertura da Clínica Comunitária de Saúde Sexual – Espaço de Cuidados e Prevenção às IST
QUANDO:  Dia 1º de dezembro, às 13h
ONDE:Rua Pedro Américo, 52 – República – São Paulo – SP
QUEM:Diretores dos Programas de HIV/Aids locais e comunidade
 
ATIVIDADE 02
O QUE:Testagem comunitária para HIV e IST + ações de prevenção
QUANDO:  Dia 1º de dezembro, das 10h às 20h
ONDE:Praça da República – São Paulo – SP
QUEM:Programa Estadual de DST/Aids + AHF Brasil + comunidade

DADOS CHAVE

Comunidades chave

Dados do Unaids mostram um risco crescente de novas infecções entre homens gays e outros homens que fazem sexo com homens (HSH) em todo o mundo. A partir de 2021, os dados mostram que os HSH têm 28 vezes mais chance de adquirir o HIV em comparação com pessoas heterossexuais da mesma idade. Nas pessoas que injetam drogas, o risco é 35 vezes maior; entre trabalhadores sexuais, 30 vezes; entre mulheres transgêneros, 14 vezes. As populações-chave representam menos de 5% da população mundial, mas elas e suas parcerias sexuais foram responsáveis por 70% das novas infecções pelo HIV em 2021.

Diminuição do Tratamento

O número global de pessoas em tratamento de HIV teve em 2021 o crescimento mais lento em mais de uma década. E embora três quartos de todas as pessoas vivendo com HIV tenham acesso ao tratamento antirretroviral, 10 milhões de pessoas ainda não o têm, e apenas metade (52%) das crianças que vivem com HIV podem ter acesso a medicamentos que salvam vidas.

Ação necessária dos países na resposta ao HIV e Aids: 

  • Promover serviços liderados pela comunidade e centrados nas pessoas; apoiar os direitos humanos para todas as pessoas; eliminar leis punitivas e discriminatórias; combater o estigma; empoderar meninas e mulheres; garantir igualdade de acesso ao tratamento, incluindo novas tecnologias de saúde; e serviços de saúde, educação e proteção social para todos.
  • Tornar realidade os direitos humanos e a igualdade de gênero. Leis e políticas punitivas e discriminatórias estão minando a resposta à aids, afastando as pessoas dos serviços e minando os esforços de saúde pública para alcançar aqueles que correm maior risco de nova infecção ou morte.
  • Apoiar e proporcionar recursos eficazes para as respostas lideradas pela comunidade. As respostas lideradas pela comunidade estão se mostrando revolucionárias na redução das desigualdades e no apoio a respostas eficazes e resilientes ao HIV.
  • Garantir financiamento suficiente e sustentável. É essencial que os doadores internacionais e os governos dos países de baixa e média renda façam investimentos significativos em HIV.
  • Abordar as desigualdades na prevenção do HIV, no acesso e nos resultados dos testes e tratamentos, e fechar as lacunas que existem em localidades específicas e para certos grupos.
  • Aumentar a disponibilidade, qualidade e adequação dos serviços de prevenção, testagem e tratamento do HIV para que todas as pessoas recebam os cuidados de que necessitam. Reformar leis, políticas e práticas para enfrentar o estigma e a exclusão enfrentados por pessoas vivendo com HIV, populações chave e populações marginalizadas.