A campanha Novembro Azul, que no Brasil surgiu em 2008 , inspirada por um movimento iniciado na Austrália cinco anos antes, tornou-se referência na conscientização sobre a saúde masculina. O foco das ações está na prevenção e no tratamento do câncer de próstata, o segundo que mais acomete os homens no país, atrás apenas dos tumores de pele do tipo não-melanoma.
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), estima-se atualmente em 71 mil novos casos da doença por ano no Brasil. Um desses casos foi o da cartunista e chargista Laerte, conforme relatou em entrevista à Folha de S.Paulo , publicada em 17 de novembro, Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata.
Laerte é uma mulher trans. Quando recebeu o diagnóstico, em setembro de 2023, tinha 72 anos. Apesar de se identificar, viver e se vestir como mulher, ela tem características fisiológicas masculinas, como a próstata. “Mulheres trans precisam entender que possuem próstata e possuem um organismo que precisa ser cuidado de forma adequada. Sou uma mulher trans, mas eu tenho uma parte minha que é masculina. Carrego uma cultura masculina, [segundo a qual] homens não precisam ir ao médico. Esse é o maior mito que precisa ser enfrentado”, disse Laerte ao jornal.
O urologista João Brunhara, um dos especialistas ouvidos pela Folha de S.Paulo, explica que, durante a transição de gênero, há a possibilidade de realizar terapia hormonal para desenvolver características femininas, cirurgias para inserção de mamas, remoção dos testículos e modificação da genitália externa, como a retirada do pênis e a criação de uma vulva. “No caso da cirurgia de redesignação sexual, a próstata não é removida porque envolve riscos elevados, como incontinência urinária e sangramentos, e não traz benefícios para a percepção de gênero ou a saúde da mulher trans. Ou seja, a próstata permanece mesmo após a cirurgia”, explica o médico, que é membro do comitê científico do Instituto Lado a Lado pela Vida.
Em 2024, o câncer de próstata matou 17.587 pessoas no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. Foram 48 por dia, mesmo tendo alto nível de cura se for identificado precocemente, conforme lembra a Sociedade Brasileira de Urologia. E de acordo com a revista científica The Lancet, o envelhecimento da população elevará o número de casos da doença em todo o mundo de 1,4 milhão em 2020 para 2,9 milhões até 2040.
“É preciso lembrar que há mulheres com próstata, que precisam ser contempladas nas campanhas de conscientização, sem estigma ou preconceito. Da mesma forma, as campanhas de prevenção ao câncer de mama e de colo de útero precisam lembrar dos homens trans. Isso é inclusão, respeito e dignidade”, comenta Beto de Jesus, diretor da AHF Brasil.
Para informações sobre sinais e sintomas, diagnóstico, tratamento e acompanhamento, acesse a página do Inca sobre câncer de próstata.