Dignidade Menstrual: o direito negligenciado que afeta milhões de meninas e mulheres na América Latina e Caribe

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Guilherme

Neste 28 de maio, Dia Internacional da Saúde Menstrual, a AHF alerta para fatores que impedem o acesso a produtos de higiene e condições dignas para a menstruação

SÃO PAULO, BRASIL (26 de maio de 2025) – Milhões de garotas e mulheres jovens na América Latina e Caribe continuam enfrentando obstáculos sistemáticos para lidar com a menstruação de maneira digna. Falta de acesso a água limpa, produtos adequados de higiene e privacidade em espaços públicos e de convivência fazem parte de uma cadeia de exclusão que afeta a saúde, a autoestima e a permanência de meninas e adolescentes na escola.

De acordo com o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), ao menos 1 em cada 4 meninas em idade escolar na região deixou de ir à escola porque não tinha acesso a absorventes. E embora a menstruação seja um processo biológico, em muitos países ainda é uma fonte de vergonha, estigma e discriminação.

Neste 28 de maio, Dia Internacional da Saúde Menstrual, a Aids Healthcare Foundation (AHF) reitera o chamado para que governos, setor privado e sociedade civil atuem juntos para garantir que todas as pessoas que menstruam o façam de maneira digna, sem barreiras ou estigmas.

Essa, no entanto, ainda é uma realidade distante na América Latina e Caribe. Um estudo da ONG Plan International revelou que 35% dos adolescentes e jovens no mundo acreditam que a menstruação deveria ser mantida em “segredo”, por ser algo embaraçoso e de foro íntimo.

Outro estudo, sobre acesso a água, feito pelo UNFPA em 2023, mostrou que as pessoas mais afetadas pela pobreza menstrual na América Latina e Caribe são aquelas que vivem nas ruas, privadas de liberdade, migrantes ou pertencentes a comunidades indígenas. Esses grupos enfrentam barreiras crescentes no acesso a produtos de higiene, água segura para uso humano e educação menstrual, o que aprofunda a exclusão e a vulnerabilidade.

“A dignidade menstrual não é algo negociável ou uma discussão que possa continuar sendo adiada. Silêncio e vergonha devem ser substituídos por políticas públicas e educação baseada em direitos básicos. Em algumas áreas do Brasil, falar sobre menstruação ainda é um tabu. Trabalhamos para que esse tema seja parte de um debate público sobre políticas sociais, educacionais e de saúde”, comenta Juliana Givisiez, gerente de Advocacy da AHF Brasil.

Em 2025, a AHF apoiará eventos na região com o slogan: #MenstruaçãoDigna #EquidadeMenstrualJá. No Brasil, a AHF promoverá, em parceria com a Associação Maria & Sininha, rodas de conversa sobre dignidade menstrual e redução das desigualdades com mulheres e meninas atendidas pela instituição.

Fundada em 1989, a ONG acolhe milhares de meninas e mulheres vulneráveis da Zona Sul de São Paulo e de municípios vizinhos ao território. Também haverá distribuição de absorventes e sabonetes íntimos, insumos que estarão disponíveis por pelo menos três meses. Ao todo, serão distribuídos 22 mil absorventes, totalmente custeados pela AHF.

Desde 2019, a AHF distribuiu mais de 1 milhão de produtos de higiene menstrual na América Latina e Caribe, incluindo absorventes, coletores e materiais educativos. Em 2024, as atividades impactaram diretamente mais de 250 mil pessoas em 12 países.

O Dia Internacional da Saúde Menstrual foi estabelecido em 2014 por ativistas internacionais para reconhecer a importância do acesso a produtos que assegurem a dignidade menstrual e empoderar pessoas que menstruam.