Beto de Jesus, diretor da AHF Brasil, propõe avanços em 2025 nas políticas públicas de HIV/aids no país

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O Brasil precisa a partir de 2025 superar de vez o passado, quando ficou conhecido por ter um dos melhores programas de combate ao HIV/aids no mundo, e dar respostas concretas a demandas urgentes não só das pessoas que vivem com HIV/aids, mas da sociedade como um todo, no que diz respeito ao enfrentamento da epidemia. O alerta é de Beto de Jesus, diretor da AHF Brasil e ativista há 40 anos da causa do HIV/aids, com atuação na defesa dos direitos humanos, das pessoas LGBTQIAPN+ e do acesso à saúde pública.

Um dos aspectos urgentes a serem melhorados no país é a lista de antirretrovirais disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS), que segundo Beto está obsoleta. “Há anos não são incluídos novos medicamentos na lista. Existem drogas modernas que não estão acessíveis para quem faz tratamento de HIV. Estamos falando de quase 1 milhão de pessoas”, diz ele. “Foi o tratamento que permitiu ao país atingir a menor taxa de mortalidade em uma década. Mas, ainda assim, 10 mil pessoas morrem por ano em decorrência do HIV/aids“, alerta.

EFEITOS DA PANDEMIA

O diretor da AHF Brasil lembra que o país ainda vive os efeitos da pandemia de covid-19, quando houve represamento de diagnóstico e redução drástica nas campanhas informativas de HIV/aids. Isso explica, em parte, o aumento de novas infecções pelo HIV e de casos de aids nos últimos anos. Em 2023, foram 46 mil e 38 mil, respectivamente. “É algo inadmissível para uma doença prevenível, em um país que tem tratamento universal e gratuito”.

PREVENIR, TESTAR, TRATAR E INFORMAR

Para Beto, é fundamental reforçar entre as pessoas que fazem sexo o mantra de prevenir e testar sempre; se der positivo, tem tratamento. “Este é o caminho para tornar as pessoas indetectáveis, o que não significa a cura, mas é uma obsessão para quem que trabalhamos há tantos anos no enfrentamento desta epidemia, pois é uma poderosa arma contra o HIV”, explica.

É preciso, por exemplo, retomar as campanhas com foco nas populações mais vulneráveis – mulheres, pretos, jovens, homens gays, trans e trabalhadores sexuais; e falar sem pudor sobre testagem, profilaxia pré (PrEP) e pós-exposição (PEP), vacinação de adultos, camisinha, prevenção combinada e outras infecções sexualmente transmissíveis (IST).

POLÍTICAS PÚBLICAS

Beto também avalia que o Governo Federal tem o desafio de sair da posição de refém do Congresso Nacional não apenas nas questões políticas e econômicas, mas também em temas de direitos coletivos e de saúde pública. “Todos esses assuntos dizem respeito ao conjunto da sociedade, sejamos nós homens ou mulheres, cis ou trans, brancos ou pretos, indígenas ou amarelos, deste ou daquele espectro político. A dois anos da próxima eleição de presidente, deputados e senadores, a sociedade brasileira precisa tomar para si o desafio de enfrentar o HIV/aids. Porque esta é uma questão que afeta a todos, não apenas às pessoas que vivem com o vírus”, avalia.

COMBATE AO ESTIGMA

Também é imprescindível ao país, segundo Beto, avançar no combate ao estigma. Ainda são comuns os casos de pessoas que chegam aos serviços de saúde com aids avançada, por medo de perder o emprego, os amigos, a família. “É fundamental que o tema seja debatido em todos os espaços, nas escolas, em casa, nos clubes, nas igrejas. O HIV/aids precisa estar no centro do debate coletivo, sobretudo num momento em que se discutem cortes de gastos que fatalmente terão impacto no financiamento da saúde púbica”, propõe.

DESAFIOS DA AHF PARA 2025

Na AHF Brasil, 2025 será um ano de desafios, como a expansão das atividades em parceria com governos e prefeituras. Já no primeiro trimestre, a AHF começará a trabalhar em Brasília, juntamente com o Governo do Distrito Federal. Ao longo do ano, será fortalecida a presença nas 32 unidades do SUS onde a instituição já atua, nos estados de São Paulo (10), Pernambuco (9), Amazonas (6), Rio Grande do Sul (4) e Pará (3).

“Em alguns desses serviços de saúde, como em Manaus, o paciente com diagnóstico positivo para HIV esperava meses até o início do tratamento. Hoje a média de espera está em até 14 dias e a meta é chegar a não mais que sete dias. Em Viamão (RS), segundo o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, conseguimos reduzir bastante a mortalidade por aids. O caminho é longo, mas resultados com estes nos animam a seguir na luta por mais respeito, dignidade, políticas públicas e financiamento”, conclui Beto de Jesus.